O verão da abertura

João Baptista Figueiredo

 O último general presidente, João Baptista Figueiredo, tinha por tarefa dar continuidade ao lento processo de abertura política. O presidente encaminhou para o Congresso um projeto de anistia restrita e parcial, que foi repudiado por todas as correntes políticas que lutavam pela anistia ampla, geral e irrestrita. O projeto, aprovado em junho de 1979, apresentava muitas restrições à absolvição de civis. Aos poucos, porém, o alcance da lei da anistia foi ampliado. Assim, muitos cassados puderam concorrer às eleições de 1982.

  E os desaparecidos? Campanhas foram organizadas para descobrir paradeiro de centenas de pessoas sequestradas durante o regime militar. Ainda hoje existem dezenas de famílias sem notícias concretas de parentes que foram vítimas da repressão dos governos militares.

  A reforma política implementada pelo Estado permitiu a volta do pluripartidarismo. A Arena se transformou no Partido Democrático Social (PDS) e o MDB passou a se denominar Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Surgiram: PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), PDT (Partido Democrático Trabalhista), PT (Partido dos Trabalhadores) e PP (Partido Popular), que se fundiu com o PMDB. Nas eleições de 1982, o PMDB e o PDT conseguiram eleger governadores em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

  O processo de abertura política não era aplaudida por toda a sociedade. Movimentos ligado ao aparelho de repressão, inconformada com os últimos acontecimentos, decidiu partir para o terrorismo. Bombas foram colocadas em locais públicos como bancas de revistas, sedes de jornais da oposição, igreja e até na sede da OAB, no Rio de Janeiro. Um dos atentados mais sérios ocorreu no Riocentro, no dia 30 de abril de 1981. Abriu-se um inquérito para apurar a autoria do atentado no Riocentro, mas, após quase três meses de investigação, foi declarado que dois militares haviam sido vítimas de uma armação perpetrada pelos grupos de esquerda. O resultado do inquérito não convenceu ninguém.

→ O terror está chegando ao fim
  Logo que assumiu o governo, João Figueiredo enfrentou uma crise ministerial que foi solucionado com a volta de Delfim Netto ao Ministério da Fazenda, em substituição a Mário Henrique Simonsen. Como um "superministro", Delfim Netto estabeleceu o III Plano Nacional do Desenvolvimento. Entretanto, a permanência da crise econômica mundial trouxe dificuldades para a economia brasileira, como a resistência dos bancos internacionais em conceder novos empréstimos, o aumento da dívida externa, a diminuição dos investimentos públicos em obras de infraestrutura e a redução de créditos para o setor privado. O fantasma da recessão rondava o país.

  A partir de 1983, as oposições lançaram a campanha pelas Diretas Já. O movimento tinha como objetivo aprovar o projeto de lei de autoria do deputado federal Dante de Oliveira, que estabelecia a realização de eleições diretas e livres para a presidência da República em 1985. Comícios foram realizados em todo o país, as ruas tingiram-se de amarelo, e personalidades importantes, como artistas, jornalistas, intelectuais e políticos aderiram ao movimento. Apesar da forte mobilização, a emenda não foi aprovada pela Câmera dos Deputados.

  Restava a opção de eleger indiretamente, por meio do Colégio Eleitoral, um presidente civil.

  Assim pela primeira vez desde 1964, a disputa se deu entre dois civis: de um lado Paulo Maluf e do outro lado Tancredo Neves. Em 15 de janeiro de 1985, foram eleitos Tancredo Neves e José Sarney, respectivamente presidente e vice presidente da República.

Sarney: Tancredo ainda não recebe do país o devido reconhecimento

  O presidente eleito não chegou a ser empossado em razão de um câncer no intestino, agravado por infecção hospitalar, que levou à morte em 21 de abril daquele mesmo ano. O fato gerou comoção nacional. Na data marcada para a posse, em 15 de março de 1985, a faixa presidencial foi entregue ao ex líder da Arena e ex presidente do PDS, José Sarney. Nasceu assim um novo (e conturbado) período para o povo brasileiro: a Nova República.