Treze Colônias, uma nação


 O pioneirismo da América inglesa na ruptura do sistema colonial está ligado à afirmação crescente de uma identidade própria, primeiro local e depois norte americana. Nesse processo, colônias separadas conceberam um projeto coletivo e aproximaram-se em uma confederação de Estados, que mais tarde evoluiu para uma unidade política federativa. Tendo como marco a independência dos Estados Unidos, movimentos semelhantes aconteceram nas Américas espanholas e portuguesa, sempre utilizando como parâmetro a Declaração Unânime dos Treze Estados da América.

  A crise nas Treze Colônias foi precipitada pela adoção, por parte da Coroa britânica, de medidas coercitiva que intensificam o controle sobre o comércio norte americano e atlântico. A maior intervenção veio justamente quando as colônias desejavam não apenas relaxar os laços existentes como também dar-lhes fim, não tanto por motivos de ordem econômica mas sobretudo por fatores políticos: os "colonos" sentiam-se fortes e prósperos, queriam ter liberdade de movimentos e de ação.

→ Dominação versus resistência
  O que levou a metrópole a aumentar o controle? As medidas de restrição foram adotadas a partir de fatores de ordem estrutural e conjuntural. O primeiro deles, estrutural, foi a Revolução Industrial, que trouxe consigo o cerne de um modelo capitalista, necessitado da expansão de mercados consumidores. Entre os fatores conjunturais destacou-se a Guerra dos Sete anos (1756-1763) entre a Grã-Bretanha e a França. Apesar da vitória britânica, as despesas do conflito esvaziaram os cofres públicos ingleses.

  Em certa medida, as Treze Colônias foram as grandes vitoriosas na Guerra dos Sete Anos. Não apenas se livraram das ameaças da França, que teve que ceder aos ingleses o Canadá, como também adquiriram armas, munições e farta experiência bélica, lutando ao lado das tropas britânicas. Além disso, em 1763, a assinatura do Tratado de Paris, entre os países beligerantes, transformou um antigo adversário dos colonos em um aliado em potencial. Vencidos e humilhados, os franceses abraçariam poucos anos depois a causa separatista norte-americana, buscando uma revanche contra os ingleses.

→ As leis proibitivas
Muito antes da Guerra dos Sete Anos, os interesses das colônias e da metrópole já se diferenciavam. Em 1733, a Lei do Melaço (Molasses Act) impôs uma tarifa proibitiva ao melaço procedente de territórios não ingleses. A medida fiscal era justificada pelas queixas das colônias produtoras de cana-de-açúcar, que insistiam em ter o monopólio da fabricação de rum.

  Em 1750, sob pretexto de não prejudicar q indústria britânica, os colonos de Nova York e da Pensilvânia foram proibidos de trabalhar o ferro. Em 1765, o Parlamento inglês aprovou a Lei do Selo (Stamp Act), estabelecendo que todos os documentos legais e oficiais em circulação nas colônias eram obrigados a receber selos provenientes da Metrópole.

  A tensão aumentava. O Parlamento reafirmou sua prerrogativa de legislar sobre todos os assuntos das colônias, incluindo as taxações. Os colonos, por sua vez, argumentam que jamais haviam pagado impostos, além daqueles decretados pelas autoridades locais ou das taxas ligadas ao comércio. Lembraram ainda que eles eram cidadãos ingleses, mas não estavam representados no Parlamento — e um dos princípios da lei inglesa era o de que não haveria tributação sem que os representantes dos cidadãos houvessem votado os impostos. Surgiu, desse modo, a palavra de ordem que serviria para chamar o povo à causa dos patriotas contra a metrópole: "Nenhuma taxação sem representação".

  Em 1767, o Tesouro inglês, interessado em uma arrecadação mais eficiente dos direitos impostos ao comércio alfandegária, lançando, ao mesmo tempo, taxas sobre o papel, o vidro, o chumbo e o chá que a Inglaterra exportava para as colônias.


  A promulgação das taxas provocou uma forte reação nas colônias, levando o governo metropolitano a revogar os novos tributos, exceto o Imposto do Chá. A partir desse momento multiplicaram-se os incidentes, especialmente em Boston, onde ocorreu o episódio que ficou conhecido como a Festa do Chá de Boston (Boston Tea Party). Em dezembro de 1773, os colonos, disfarçados de índios, jogaram ao mar carregamentos de chá trazidos pela Companhia das Índias, cujo preço baixo arruinaria os comerciantes locais, que se abastecimento em outras paragens.

  A resposta da metrópole traduziu-se, em 1774, em uma série de leis que ficaram conhecidas como Leis Intoleráveis. Destacaram-se a Lei do Porto de Boston, que fechava o porto até o pagamento integral do chá lançado ao mar; a Lei do Aboletamento, ordenamento às autoridades que dessem alojamento adequado aos soldados ingleses; e a Lei de Quebec, que garantia aos habitantes franceses do Canadá a liberdade de religião e costumes.


  Essas leis, em vez de subjugar os colonos, acabaram por uni-los contra a metrópole. Em 1774 reuniu-se o Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, que pediu o fim das medidas restritivas ao desenvolvimento das colônias.

  Em respostas, a metrópole intensificou a repressão. Os conflitos armados contribuíram para que segmentos conservadores do sul aderissem às ideias libertadoras. A intransigência inglesa favoreceu a organização do Segundo Congresso Continental de Filadélfia, em 1776, no qual, sob a liderança do virginiano Thomas Jefferson, foi redigido a Declaração Unânime dos Treze Estados Unidos da América — a Declaração da Independência.

  O Congresso Continental confirmou o virginiano George Washington como comandante das tropas rebeldes. As lutas estenderam-se até 1783, quando o governo britânico reconheceu, pelo Tratado de Versalhes, a independência dos Estados Unidos da América.

Vídeo: Vamos Falar de História? - Revolução Americana

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