POLÍTICA: Não havendo justiça, o que são os governos senão um bando de ladrões?

NÃO HAVENDO JUSTIÇA, O QUE SÃO OS GOVERNOS SENÃO UM BANDO DE LADRÕES?
AGOSTINHO DE HIPONA (354-430)
IDEOLOGIA: Cristianismo
FOCO: Governo Justo


 Em 380, o cristianismo foi adotado, de fato, como a religião oficial do Império Romano, e, conforme o poder e a influência da Igreja cresciam, sua relação com o Estado se toronou uma questão de disputa. Um dos primeiros filósoficos políticos a abordar essa questão foi Agostinho de Hipona, um intelectual e professor que se converteu ao cristianismo. Em sua tentativa integrar a filosofia clássica à religião foi fortemente influenciado por Platão, que também formou a base de seu pensamento político. Como cidadão romano, Agostinho acreditava na tradição de um Estado sujeito ao estado de direito, mas como erudito (pessoa de cultura vasta), concordava com Aristóteles e Platão que a meta do Estado deveria ser permitir ao povo viver uma vida digna e virtuosa. Para um cristão, isso significava viver pelas leis divinas prescritas pela Igreja. No entanto, Agostinho acreditava que, na prática, poucos homens viviam de acordo com as leis divinas, e a maioria vivia em pecado. Ele fazia a distinção entre dois reinos: a civitas Dei (cidade de Deus) e a civitas terrea (cidade terrena). No segundo reino, predominaria o pecado. Agostinho via a influência da Igreja no Estado como o único meio de garantir que as leis da terra fosse, feitas como referência às leis divinas, permitindo ao povo viver na civitas Dei. A presença de tais leis justas distinguiria o Estado de um bando de ladrões e piratas que se juntam sob um líder para roubar o próximo. Os ladrões podem ter regras, mas essas não são justas. No entanto, Agostinho acrescentou que, mesmo na pecaminosa civitas terrea, a autoridade estatal pode garantir a ordem por meio do estado de direito, e que a ordem é algo que todos temos a razão em querer.

Sem justiça, uma associação
de homens unidos pela lei não
tem como progredir.
Agostinho

Guerra Justa
 A ênfase de Agostinho na justiça, com suas raízes na doutrina cristã, também se aplicava aos assuntos da guerra. Se por um lado ele acreditava que todas as guerras eram más e que atacar e saquear outros estados era injusto, fazia concessão à possibilidade de uma "guerra justa" travada por uma causa justa, tal como a defesa de um Estado contra uma agressão, ou para restaurar a paz, apesar de dever ser enfrentada com remorso e só em última instância.
Esse conflito entre as leis secular e a divina, e a tentativa de reconciliá-las, deu início à luta de poder entre a Igreja e o Estado que durou toda a Idade Média.


Fonte: O livro da política

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