Vende-se a Amazônia

 "Dar lugar pros gringos entrar", como cantava Raul Seixas, é um dos maiores temores envolvendo a Amazônia. A ideia de que podemos nos desfazer da floresta existe há décadas. E ganhou força de 2000 para cá, depois que organizações não governamentais dos Estados Unidos e da Europa começaram a comprar terrenos de floresta pelo mundo para impedir seu desmatamento. Eles fizeram isso em lugares como Peru, Guiana, Serra Leoa e Ilhas Figi. Esse tipo de coisa rola aqui também. Por exemplo: o magnata sueco Johan Eliasch, dono de ong, comprou uma área na Amazônia do tamanho da cidade de São Paulo - e revende partes da "sua" selva a ambientalistas. Mas a lei brasileira coloca um freio nisso: 75% da Amazônia ficam sob controle do governo, e não podem ser vendidos.

 Mas, no mundo das teorias mirabolantes, o que está em questão nem é esse tipo de comércio. É a venda da soberania mesmo - com o Estado entregando a floresta a um "consórcio de empresas", ou coisa que o valha, a troco de dinheiro. Nesse cenário doido, em que o mapa do Brasil perderia a região norte (pois ela seria propriedade privada), o mais difícil seria encontrar um comprador disposto a pagar o justo. As estimativas do governo, afinal, é que existem pelo menos US$15 trilhões em reservas minerais e US$5 trilhões em madeira sustentável, ou seja, que pode ser cortada, vendida e replantada. Isso aí, trilhões. A Amazônia também da água na boca da indústria aeroespacial. É que a floresta tem grandes reservas de nióbio, um metal que, pode suportar até 2.500 graus célsius, é essencial para foguetes. Além disso, fica na linha do Equador, de onde dá para lançar naves espaciais gastando menos combustível, já que elas pegam mais impulso da rotação da Terra nessa região.

 A água doce é um recurso finito, "estocado" em rios, no subsolo e na atmosfera. E um terço dela está na bacia Amazônica. Algumas regiões já sofrem falta crônica, e o consumo vai aumentar 25% até 2030. Nesse cenário, daria para exportar a vazão do rio Amazonas. A um preço hipotético de US$0,10 por litro, as empresas vendedoras de água levantariam mais de US$400 bilhões anuais - o dobro do faturamento da Apple.

 E ainda nem incluímos na conta a maior riqueza da região: metade das espécies vegetais e animais do planeta. Curas de doenças como aids e o câncer podem estar escondidas em uma planta desconhecida, por exemplo - e, com a densidade de espécies de plantas na Amazônia é a maior do Universo conhecido, trata-se de um belo campo de pesquisas. Quanto isso vale? Só a cura do câncer poderia render US$50 trilhões a quem a descobrisse, segundo um estudo da Universidade de Chicago. Para comparar: a receita anual da maior farmacêutica do planeta, a Johnson & Johnson é de apenas US$16 trilhões.

 A venda da região Amazônica tiraria 40% do Brasil do nosso mapa, mas é só 5% do PIB. Mesmo assim, seria um trauma forte o bastante para fomentar o separatismo. Num cenário desses, o Sul e o Sudeste formariam um país com o PIB de US$1,2 trilhão, no mesmo nível do México. Os demais estados ficariam com US$500 bilhões, o que dá uma Argentina.

Referência
ABRIL, Editora. E se...?/Editora Abril. - São Paulo: Abril, 2015.

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