Guerra da Lagosta
Hoje, vocês vão
conhecer a história da Guerra da Lagosta, que foi um conflito de
interesses comerciais que resultou numa instabilidade diplomática
que quase causou uma guerra entre o Brasil e a França.
No início da década
de 60 a exportação no Brasil se encontrava em seu auge. A pesca
existente no litoral brasileiro despertou os interesses dos
franceses, que por sua vez enviaram uma delegação para o Brasil com
o objetivo de negociar a vinda de embarcações pesqueiras francesas
para realizar apenas pesquisas sobre os nossos viveiros de lagosta. A
autorização dessa pesquisa foi emitida em março de 1961 e tinha um
prazo de validade de 180 dias. Os franceses não obedeceram o acordo.
Os militares brasileiros constataram que os franceses estavam
realizando uma pesca predatória em larga escala. Além disso, a
licença de pesquisa emitida limitava-se a três embarcações e
foram enviados quatro. Em abril de 1961, essa licença foi cancelada.
No entanto, em novembro do mesmo ano, os franceses conseguiram uma
licença alegando que essa nova pesquisa seria realizada fora de
águas brasileiras.
![]() |
Manchetes dos jornais durante a crise |
O governo brasileiro
argumentava dizendo que a lagosta era um recurso econômico de sua
plataforma continental, cabendo somente aos brasileiros a emissão de
autorização da captura de crustáceo. Por outro lado, o governo
francês alimentava a tese de que a lagosta, por se deslocar de um
lado para o outro dando saltos, deveria ser considerado um peixe e
não um recurso de plataforma continental. Em resposta o comandante
brasileiro Paulo de Castro Moreira da Silva, ironicamente, disse:
“por analogia, se a lagosta é um peixe porque se desloca dando
saltos então o canguru é uma ave”. Os pesqueiros franceses, que
não esperavam um posicionamento firme por parte dos brasileiros,
continuaram ignorando a soberania do Brasil com pesca predatória.
Por outro lado a Marinha Brasileira continuou capturando várias
embarcações francesas.
No início de 1963,
os franceses tentaram estabelecer um acordo comercial binacional e
antes mesmo de firmar qualquer coisa eles apenas notificaram avisando
que embarcações francesas já se deslocavam rumo ao litoral
brasileiro. O Brasil não aceitou isso e pediu para que o governo
francês não permitisse a vinda dessas embarcações francesas. No
entanto, no dia 30 de janeiro de 1963, a Marinha Brasileira detectou
três embarcações estrangeiras em nosso mar. A Marinha Brasileira
então pediu para que essas mesmas três embarcações se deslocassem
ruma a uma base naval, em Natal. Porém, os comandantes franceses não
acataram as ordens. Então, os nossos militares receberam as
instruções de usarem a força necessária. O alarme foi soado e os
nossos militares entraram em postos de combate. Não demorou muito
para que os comandantes franceses mudarem de ideia.
No dia 8 de
fevereiro de 1963, o presidente João Goulart chegou a liberar a
pesca aos franceses, porém o povo brasileiro exigiu que o Brasil
defendesse a sua soberania. Após pressão popular, João Goulart
acabou voltando atrás. Esse episódio desestabilizou totalmente as
relações diplomáticas entre o Brasil e a França. O que era apenas
uma questão de interesse comercial estava agora a um passo de um
conflito bélico. O então presidente francês, Charles de Gaulle,
enviou um contratorpedeiro para defender os pescadores franceses. Em
resposta, as forças armadas brasileiras mobilizaram, no dia 22 de
fevereiro de 1963, uma força tarefa composta por cruzadores,
contratorpedeiros e submarinos para defender o litoral brasileiro. A
Força Aérea Brasileira também entrou em operação realizando
missões de esclarecimento marítimo e vigiando de perto as
embarcações francesas. Mesmo sabendo de suas limitações bélicas,
os soldados brasileiros estavam dispostos a enfrentar os franceses
caso fosse necessário.
O governo
norte-americano tentou intervir nessa situação toda exigindo que as
duas embarcações brasileiras, que tinham sido adquiridas como
empréstimo dos Estados Unidos, retornassem para suas bases navais.
No acordo as duas embarcações que ainda pertenciam de fato ao
governo americano não poderiam ser usados contra um país aliado dos
Estados Unidos, no caso, a França. Porém, em uma resposta épica, o
governo lembrou os Estados Unidos de que o Brasil declarou guerra ao
Japão simplesmente pelo fato dos japoneses terem efetuado um ataque
contra um país americano. O governo brasileiro lembrou os Estados
Unidos de que o Brasil honrou a Conferência de Havana, que diz onde
um ataque de um Estado não americano contra um Estado Americano é
considerado um ataque contra todos os Estados Americanos.
O auge da tensão
ocorreu na madrugada do dia 28 de fevereiro de 1963, quando os
contratorpedeiros Paraná e Pará se deslocaram para o arquipélago
de Fernando de Noronha para vigiar de perto o contratorpedeiro
francês. Qualquer disparo no momento errado, o Grupo-Tarefa Frances,
que estava no Costa Oeste da África, seria descolada para o litoral
brasileiro e uma guerra poderia começar a qualquer momento. O
governo, as emissoras de rádio e a população brasileira
acompanhavam apreensivos todas as informações. Após essa madrugada
e a grande escalada das embarcações brasileiras aos poucos os
franceses foram deixando a região.
Não demorou muito e o orgulho do presidente francês, Charles de Gaulle, cedeu a pressão do governo brasileiro. Pouco tempo depois a França exigiu que todas as suas embarcações deixassem o litoral brasileiro. A França então teve que aceitar um acordo diplomático que acabou favorecendo mais o nosso país. Esse episódio, que ficou conhecido como a Guerra da Lagosta, foi um dos muitos momentos que mostrou que existiu um Brasil onde ele defendia, independente de sua limitação bélica, os interesses de sua soberania.
REFERÊNCIAS
VAMOS FALAR DE HISTÓRIA? O dia em que o Brasil desafiou a França (Felipe Dideus). Disponível em: <https://youtu.be/dcMYP24qVSI>. Acesso em 2 Out. 2017.
PODER NAVAL. A Guerra da Lagosta e suas lições. Disponível em <http://www.naval.com.br/blog/2016/01/28/a-guerra-da-lagosta-e-suas-licoes/>. Acesso em 4 Out. 2017
Comentários
Postar um comentário