A Fortaleza dos Reis Magos

Fortaleza dos Reis Magos no início do século XX

Mapa de Luís Teixeira (1574) com a
divisão da América Portuguesa em capitanias 
 Em 1532, ano em que ocorreu a criação das Capitanias Hereditárias, o território correspondente ao atual Estado do Rio Grande do Norte achava-se incluído na IX Capitania, cujo limites litorâneos tinha o seu início na Baía da Traição, estendendo-se até Angra dos Negros (na Paraíba e no Ceará, respectivamente).
 Foram agraciados com aquela Capitania o historiador João de Barros e o capitão-mor do mar Aires da Cunha . Expulsos dos territórios do sul do país, os franceses se apossaram do Rio Grande onde passaram a nutrir relações comerciais com os indígenas.
 No ano de 1597, o Governador Geral do Brasil, Dom Francisco de Souza, determinou a organização de uma expedição para expulsar os franceses da Capitania do Rio Grande (então convertida em uma Capitania Real). Seria também edificada uma fortificação na barra do Rio Grande (Potengi), e posteriormente fundar-se-ia uma cidade nas proximidades.
 Em 25 de Dezembro de 1597, do dia do Natal, chegava à barra do Potengi, a armada composta de 14 navios, que trazia 400 homens sob o comando do capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, a fim de dar-se início à operação de conquista do território.
 Em 6 de Janeiro de 1598, Mascarenhas Homem, o capitão-mor da conquista do Rio Grande, deu início aos serviços de edificação de uma fortaleza, que recebeu a denominação de Reis Magos, em homenagem aos Santos Reis, naquele dia comemorados.
 O projeto de construção do Forte foi confiado ao jesuíta padre Gaspar de Sampères, que exercera a profissão de engenheiro, na Espanha e em Flandres, antes do seu ingresso na Companhia de Jesus.
 Em menos de seis meses de trabalho, no qual também colaborou a gente enviada da Paraíba, a Fortaleza foi concluída, ficando em "estado de defensão", no dia de São João, 24 de Junho de 1598. Assumiu também o cargo de capitão da fortaleza, João Rodrigues Colaço.
 A missão confiada a Mascarenhas Homem teve prosseguimento, após a conclusão da fortaleza, pois o Rei Dom Felipe II da Espanha determinara também que se desse início à edificação de uma cidade. Tal providência garantiria o efetivo povoamento da Capitania e a definitiva expulsão dos franceses.
 Em janeiro de 1600, Mascarenhas Homem retornou a Pernambuco, após o cumprimento de sua missão concluída com a fundação da Cidade. Essa foi conhecida por diversas denominações: Cidade dos Reis, Cidade de Santiago, Cidade do Rio Grande e, finalmente, Cidade de Natal. Este último topônimo só vem aparecer em documento de 1614.
 Construída originalmente de taipa, a fortaleza sofreu nos anos seguintes a 1598, vários melhoramentos, dos quais o mais importante foi o "encamisamento" de suas precárias muralhas externas. Tal serviço consistiu em revestir com pedras as paredes da fortificação, pois eram as mesmas, por sua própria natureza, muito vulneráveis à ação de fatores destrutivos.
 A fortaleza apresenta um traçado fiel às teorias arquitetônicas renascentistas italianas do século XVI. Os italianos dominavam as técnicas de defesa, e suas teorias arquitetônicas comparava o traçado de uma fortificação ao corpo humano. Scamozzi recomendava que "todas as partes de uma fortaleza sejam sabiamente distribuídas como a Natureza, verdadeira mestra de todas as coisas, fez os membros humanos".
 A concepção "antropomorfa" dos italianos encontrou acolhida por parte dos padre Sampères, que a introduziu no seu projeto destinado à construção da Fortaleza dos Reis Magos.
 Na segunda década do século XVII, o engenheiro Francisco Frias de Mesquita construiu as partes internas restantes da fortificação. 
 Em 1630, a fortaleza já era mencionada como achando-se totalmente concluída. Como a invasão holandesa. logo a Fortaleza dos Reis Magos despertou cobiça dos flamengos, que por duas vezes tentaram conquista-la, sendo bem sucedidos na segunda expedição.
 No dia 12 de Dezembro de 1633, os flamengos conseguiram a capitulação das tropas defensoras da fortaleza, cujo capitão era o espanhol Pero Mendez de Gouveia.
 As forças conquistadoras entregaram o comando da fortificação ao capitão Joris Gardtzmann (Garstman). O velho Reis Magos teve usa denominação mudada para Castelo Keulen, uma homenagem prestada ao General Mathias van Keulen, alto conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais, e que fizera parte da expedição vitoriosa.
 Permaneceu, assim, o forte em poder dos holandeses até janeiro de 1654, quando foram os intrusos expulsos das terras brasileiras, No mês seguinte, a fortificação revertia ao domínio português, e retomava a sua primitiva denominação - Fortaleza dos Reis Magos.

Fortaleza dos Reis Magos. Ano não identificado
Ano não identificado

 Durante três séculos, a fortaleza foi uma marcante presença nos acontecimentos históricos do Rio Grande. Hoje, com mais de quatrocentos anos do início de sua construção, deve-se lembrar que a velha fortificação representava o mais expressivo marco histórico do Rio Grande do Norte, e um dos mais importantes monumentos históricos nacionais. Acha-se tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN), desde 18 de maio de 1949.

Referências
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Superintendência do Iphan no Rio Grande do Norte. Natal Monumental / Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Superintendência do Iphan no Rio Grande do Norte; texto de Jeanne Fonseca Leite Nesi. - Natal, RN : Iphan-RN, 2013

WIKIMIDIA COMMONS. File: Capitanias.jpg. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capitanias.jpg> Acesso em: 24 Dez. 2017

TRIBUNA DO NORTE. A cidade de antes. Disponível em: <www.tribunadonorte.com.br/noticia/a-cidade-de-antes/400344> Acesso em: 26 Dez. 2017

TOK DE HISTÓRIA. 401 fotos antigas de Natal. Disponível em: <https://tokdehistoria.com.br/2013/10/03/401-fotos-antigas-de-natal/> Acesso em: 26 Dez. 2017

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